terça-feira, 6 de dezembro de 2011


Nos Braços de Maria

Recordo-me da imagem d'outro dia,
Daquele Cristo lânguido e cansado,
Todo chagado, mole e extenuado,
Caído no regaço de Maria.

Seu esvaído lábio parecia
Dizer o adeus dum jeito sussurrado;
E de Maria, o pranto soçobrado,
Na lágrima mais triste que caía.

Sua cabeça débil sobre o braço
Pendia por cair; e num abraço
Maria olhava os seus olhos sem brilho...

Na comoção divina que se via,
Parecia que o lábio de Maria,
Dava-se a chorar: — Meu Filho! Meu Filho!

Derek Soares Castro

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Etapas de um Adeus (Trilogia)
(Com Alysson Rosa)

  
O Velório

Puseram-na no féretro, entre as flores,
Trajada em mortas sedas dum vestido;
Guardava em mãos um terço revestido
Por pérolas d'egrégios esplendores.
  (Derek)

Lembrava um anjo meigo adormecido!
Consigo, no caixão, levava as dores,
Mas ainda, no semblante sem fulgores,
Notava-se vestígios de um gemido...
  (Alysson)

E no interior da sala derradeira,
Na prisca longarina de madeira,
Tal carpideira em lágrimas se ajunta.
  (Derek)

Em volta do ataúde, negras velas
E a derreter também, choravam co'elas
Os entes mais chegados da defunta.
  (Alysson)

***

O Cortejo

Numa manhã luctífera e outonal,
Um préstito funéreo prosseguia,
Levando o frio esquife que possuía
O corpo duma musa sepulcral.
  (Derek)

A flauta, em abissal melancolia,
Acompanhando os passos do pessoal
Que acompanhava a morta, soava igual
À dor que o vento lúgubre assobia.
  (Alysson)

E nessa linda e triste melodia,
Além do soluçar, também se ouvia
Cantar chorando os anjos pelos céus.
  (Alysson)

E num caminho tétrico e eternal,
Seguia ao longe o préstito final,
Sumindo dentre os velhos mausoléus...
  (Derek)

***

O Funeral

Ao pé da vala a turba deplorava,
A olharem o coveiro preparar
O derradeiro abrigo, o atroz lugar,
Que a morta tristemente já aguardava.
  (Derek)

Enquanto triste o padre sufragava
As preces que pairavam sobre o ar,
A lura aberta ansiava devorar
A caixa em que a finada repousava.
  (Alysson)

O povo estava em pranto, soluçando,
Enquanto a fúnebre urna foi baixando,
P'ra então permanecer naquela cova...
  (Alysson)

Caíam brancas flores encobrindo
O lúrido ataúde que partindo,
Descia à terra lúgubre que o encova!
  (Derek)

***
Derek Soares Castro / Alysson Rosa
Novembro de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011


Nossa Mocidade

                                                                    À Minha Amada

Lembras-te, Amor, dos tempos tumulares,
Daqueles brancos e marmóreos dias?
Que andávamos por entre as flóreas vias,
Na solidão dos túmulos, milhares...

Recordas-te também dos singulares
Anjos monumentais, de pedras frias?
Onde pousávamos as mãos esguias
Tateando as suas faces seculares...

Não deixa Amor, aos vis esquecimentos,
Não deixa que se olvidem os momentos,
Prende-os ao peito, torna-os imortais!

Guarda contigo todas as memórias,
Nossas vitais, miríades de histórias,
Que os tempos — Meu Amor — não trazem mais!

Derek S. Castro
7 de Novembro de 2011
*Reescrito em 27 de Julho de 2017.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek Soares Castro)

Lembrança Eterna

Pouca coisa restou-me em memória,
Desses tempos que te ias comigo,
Das mãos nossas; tal como castigo,
Separaram-se! — Vil trajetória!

Nossa vã mocidade de glória,
Fez-se um findo passado, atro, antigo.
E quiçá, entre algum pétreo jazigo,
Por completo perdeu-se essa história...

E de tudo que outrora nós fomos,
Ficou à sombra duns cinamomos,
Nossa imácula e terna aliança.

Ficou lá... Junto aos anjos marmóreos,
Dentre os tétricos túmulos flóreos,
Nossa mais bela e doce lembrança.


Derek Soares Castro

* Versos Eneassílabos em Gregoriano Anapéstico (3ª, 6ª e 9ª).

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek Soares Castro)

Jazigo Perpétuo

Por entre esses jazigos funestos,
Que noutrora passávamos rindo...
Hoje quando a passar, vejo-te indo,
Meneando-me o adeus em teus gestos.

E assim, vejo-te longe partindo,
No negror dos sepulcros tão mestos...
Tu deixaste-me apenas os restos,
E o amargor dum pesar tão infindo!

Dessas árvores — esse cipreste,
Dos segredos que outrora me deste,
Ele deve guardar na memória...

Desses túmulos — esse jazigo,
Ele deve guardar, tão consigo,
O romance de nossa atra história.

Derek Soares Castro

* Versos Eneassílabos em Gregoriano Anapéstico (3ª, 6ª e 9ª).

terça-feira, 27 de setembro de 2011


As Minhas Mãos

As minhas mãos são mortiças, esguias;
Vagos fantasmas, perdidos e absortos,
Têm a frieza dos túmulos mortos
Das pedras brancas, marmóreas e frias...

Enlanguescidas, tão magras, vazias...
Têm os relvedos de fúnebres hortos;
E os dedos longos, ebúrneos e tortos,
Formam arcaicas colunas sombrias...

Têm o requinte de góticas naves,
Marmorizadas, regélidas, graves,
São assimétricas, lúridas, cruas!

Ah minhas mãos! Solitárias, errantes,
Tão cadavéricas, tristes, minguantes,
Nunca encontraram as sedas das tuas!

Derek Soares Castro

* Versos decassílabos no ritmo Provençal / Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª).

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


Jardins de Mármore

Naqueles campos cinéreos, antigos,
Nos corredores mortais, derradeiros,
D'onde a brumosa fatal dos sobreiros
Cobre os umbrosos, silentes jazigos.

Os monumentos em pétreos castigos,
Tão taciturnos, sem vida, sem cheiros!
Tão lacrimosos nos vis nevoeiros
Desses jardins d'esquecidos abrigos.

D'arquitetura dos anjos tristonhos,
Em formas lúgubres, rostos medonhos,
Tão embuçados nos tempos, antigos...

E eu contemplando, passava olvidado,
Dentre os ciprestes; tão triste e cansado,
Na paz perpétua dos mortos abrigos!


Derek Soares Castro

* Versos decassílabos no ritmo Provençal / Gaita Galega (4ª, 7ª e 10ª).

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek Soares Castro)

Herança Perpétua

Quando eu me for à negra sepultura,
Em passo dum cortejo, sem ninguém;
Hei-me de ouvir nas árvores o amém
Das folhas farfalhando com tristura.

E tu Amor, tu hás de ouvir d'alguém,
Ou d'algum necrológio, porventura,
— A nota duma morta criatura —
Que partiu a chorar rumo do além.

Mas, não te fiques triste, nem saudosa,
Não me leves nenhuma bela rosa
Para enfeitar o meu último abrigo.

Pois, quando perceberes ao teu peito,
Um pulso enamorado e satisfeito,
É o meu coração, qu'eu deixei contigo!

Derek Soares Castro

terça-feira, 30 de agosto de 2011


No Silêncio dos Túmulos

Ao fim daquelas tardes tão sombrias
Eu te esperava num marmóreo abrigo,
E, tu chegavas dentre algum jazigo
De passo em passo; e pulcra me sorrias.

Se me recordo o livro que trazias
Por entre aquelas alvas mãos, contigo;
Sentavas — minha amada — aqui comigo
E aqueles versos lúgubres tu lias...

Eu contemplando ouvia enternecido,
A sair do teu lábio enegrecido
A consonância de um som tão etéreo,

Que hoje, pareço estar inda escutando,
A tua voz melíflua recitando:
“O mar é triste como um cemitério!”

Derek S. Castro
Agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011


Flores Mortas

À Maria Elizabeth

Junto do leito em que ela adormecia,
Por entre as pequeninas mãos unidas,
Um sudário de flores fenecidas
Por sobre o corpo frágil a encobria;

Tão branca feito a neve pura e fria,
Tinha ao rosto as feições enlanguescidas;
Os olhos eram joias esculpidas,
Cerrados em profunda letargia.

Em meigos rendilhados, claros véus,
Em azuis tão celestes como os céus,
As suas formas eram revestidas.

No áureo esquife dos últimos amores,
Ela dormia dentre as murchas flores,
— Era a rosa entre as rosas falecidas!

Derek S. Castro

segunda-feira, 15 de agosto de 2011



Cerimonial

*Dueto com o grande amigo Aarão Filho

Nas pompas finais, quando tu partiste,
Vi-te dentro dum féretro, deitada;
E tu te ias num préstito, embalada,
Numa cadência tão muda e tão triste...

Descias pelos ventos mais celestes,
Deixando na minh'alma uma navalha.
Ao ver-te assim tão jovem na mortalha
De bordados, rendilhas, alvas vestes...

As tuas mãos, tão finas, tão esguias,
Eram mãos de adeus, eram mãos tão frias,
Presas por dois rosários muito antigos...

Adormecida em teu esquife, te ias...
Descendo as ruas ermas e sombrias,
Na soledade eterna dos jazigos!

Derek Soares Castro / Aarão Filho

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

(Cemitério do Horório Lemes - Foto por Derek Soares Castro)

Entendendo...

Recostado à cruz duma sepultura,
À penumbra gelada dum cipreste;
Rememoro dum beijo que tu deste
No semblante feral dessa escultura;

E também me recordo da negrura
Dos cabelos teus — tua negra veste;
— Já me não há mais nada que me reste,
Senão todo o agro fel dessa amargura!

Ouço ainda por esses corredores,
Teus coturnos em passos sofredores,
Lentamente passando, se arrastando...

Junto desses coturnos e esculturas,
Fico olhando por entre as sepulturas,
A lembrança de nós dois, passeando...

Derek Soares Castro

* Versos decassílabos no ritmo Martelo Agalopado (3ª, 6ª e 10ª).

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


Esvanecendo...

A Ela

Que dor inda me causa essa ferida,
Quando tu, pelas campas, corredores,
Andavas a cismar cheia d'horrores,
D'olhares reflexivos — distraída.

Longe, qual uma sombra tão perdida,
Tu vinhas pelos fúnebres verdores;
Contemplando a beleza dos clamores,
Duma escultura em mármore, esculpida.

Pelos perpétuos bancos tu sentavas,
Com as mãos ao regaço, solitárias...
E os teus negros cabelos pelos ares...

E arrastando os coturnos tu passavas,
Dentre as tênebras; campas mortuárias,
Na solidão dos prados tumulares.

Derek Soares Castro

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek Soares Castro)


Elizabeth

Ao pé deste anjo num olhar absorto,
Lembro-me bem de todos os momentos;
Das tuas mãos, teus dedos macilentos,
Tacteando a expressão dum rosto torto;

E dos negros coturnos — violentos —
Pisavas o relvedo seco e morto;
Silenciosamente aqui neste horto
De mármores, sepulcros, monumentos...

Ouço inda tua voz, distantemente...
Num eco que s'esvai, longe, morrente,
Enchendo-me os ouvidos de saudade...

Volto agora ao pé deste anjo marmóreo,
Ao ver que junto dum sepulcro flóreo
Fica a dormir a nossa mocidade...

Derek Soares Castro