terça-feira, 30 de agosto de 2011


No Silêncio dos Túmulos

Ao fim daquelas tardes tão sombrias
Eu te esperava num marmóreo abrigo,
E, tu chegavas dentre algum jazigo
De passo em passo; e pulcra me sorrias.

Se me recordo o livro que trazias
Por entre aquelas alvas mãos, contigo;
Sentavas — minha amada — aqui comigo
E aqueles versos lúgubres tu lias...

Eu contemplando ouvia enternecido,
A sair do teu lábio enegrecido
A consonância de um som tão etéreo,

Que hoje, pareço estar inda escutando,
A tua voz melíflua recitando:
“O mar é triste como um cemitério!”

Derek S. Castro
Agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011


Flores Mortas

À Maria Elizabeth

Junto do leito em que ela adormecia,
Por entre as pequeninas mãos unidas,
Um sudário de flores fenecidas
Por sobre o corpo frágil a encobria;

Tão branca feito a neve pura e fria,
Tinha ao rosto as feições enlanguescidas;
Os olhos eram joias esculpidas,
Cerrados em profunda letargia.

Em meigos rendilhados, claros véus,
Em azuis tão celestes como os céus,
As suas formas eram revestidas.

No áureo esquife dos últimos amores,
Ela dormia dentre as murchas flores,
— Era a rosa entre as rosas falecidas!

Derek S. Castro

segunda-feira, 15 de agosto de 2011



Cerimonial

*Dueto com o grande amigo Aarão Filho

Nas pompas finais, quando tu partiste,
Vi-te dentro dum féretro, deitada;
E tu te ias num préstito, embalada,
Numa cadência tão muda e tão triste...

Descias pelos ventos mais celestes,
Deixando na minh'alma uma navalha.
Ao ver-te assim tão jovem na mortalha
De bordados, rendilhas, alvas vestes...

As tuas mãos, tão finas, tão esguias,
Eram mãos de adeus, eram mãos tão frias,
Presas por dois rosários muito antigos...

Adormecida em teu esquife, te ias...
Descendo as ruas ermas e sombrias,
Na soledade eterna dos jazigos!

Derek Soares Castro / Aarão Filho

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

(Cemitério do Horório Lemes - Foto por Derek Soares Castro)

Entendendo...

Recostado à cruz duma sepultura,
À penumbra gelada dum cipreste;
Rememoro dum beijo que tu deste
No semblante feral dessa escultura;

E também me recordo da negrura
Dos cabelos teus — tua negra veste;
— Já me não há mais nada que me reste,
Senão todo o agro fel dessa amargura!

Ouço ainda por esses corredores,
Teus coturnos em passos sofredores,
Lentamente passando, se arrastando...

Junto desses coturnos e esculturas,
Fico olhando por entre as sepulturas,
A lembrança de nós dois, passeando...

Derek Soares Castro

* Versos decassílabos no ritmo Martelo Agalopado (3ª, 6ª e 10ª).

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


Esvanecendo...

A Ela

Que dor inda me causa essa ferida,
Quando tu, pelas campas, corredores,
Andavas a cismar cheia d'horrores,
D'olhares reflexivos — distraída.

Longe, qual uma sombra tão perdida,
Tu vinhas pelos fúnebres verdores;
Contemplando a beleza dos clamores,
Duma escultura em mármore, esculpida.

Pelos perpétuos bancos tu sentavas,
Com as mãos ao regaço, solitárias...
E os teus negros cabelos pelos ares...

E arrastando os coturnos tu passavas,
Dentre as tênebras; campas mortuárias,
Na solidão dos prados tumulares.

Derek Soares Castro

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(Cemitério São Sebastião - Rosário do Sul - Foto por Derek Soares Castro)


Elizabeth

Ao pé deste anjo num olhar absorto,
Lembro-me bem de todos os momentos;
Das tuas mãos, teus dedos macilentos,
Tacteando a expressão dum rosto torto;

E dos negros coturnos — violentos —
Pisavas o relvedo seco e morto;
Silenciosamente aqui neste horto
De mármores, sepulcros, monumentos...

Ouço inda tua voz, distantemente...
Num eco que s'esvai, longe, morrente,
Enchendo-me os ouvidos de saudade...

Volto agora ao pé deste anjo marmóreo,
Ao ver que junto dum sepulcro flóreo
Fica a dormir a nossa mocidade...

Derek Soares Castro